A mercenária Unimed
No último sábado, 19, recebi do Pe. Gervásio uma tarefa bem espinhosa: dar assistência aos padres e demais envolvidos no acidente automobilístico já sabido de todos. Dirigi-me apressadamente ao Instituto José Frota (Fortaleza) e me deparei com um cenário de guerra. Centenas de pacientes em macas em todos os recantos do hospital, uns morrendo, outros gritando de dor, outros totalmente ensanguentados.
Entre eles, consegui reconhecer Damiana que, gritando de dor, iria ser cirurgiada. Como não vi nenhum capelão, e como o Direito Canônico me obriga e me permite, exortei-a e dei-lhe a absolvição sacramental e a indulgência plenária. Ela, contrita, parou de gritar, enquanto lhe dava o confortante perdão de Deus. O mesmo fiz com o Pe. Juciê, que já estava sendo examinado. E eu me emocionei, pois Deus sempre acerta. Ele se utiliza até mesmo de uma “enxada” velha e “desacunhada” para limpar a roça, onde insiste em nascer o mato.
Apesar da superlotação do IJF, não faltou exame, nem medicamento, nem a prontíssima atenção dos profissionais plantonistas. Tudo foi perfeito. Começo a entender o grande problema dos serviços públicos: a má gestão. O Estado – e parece que somente ele – tem plenas condições de atender bem o cidadão. Estou me convencendo disso. E, também, que o SUS é o melhor plano, por pior que seja. Se tivéssemos melhores administradores, a coisa seria bem outra.
Por óbvio, tentei transferir o Pe. Juciê para o Hospital da Unimed, já que, como todos os padres da diocese de Cajazeiras (e são mais de 60), é usuário (enfermaria, abrangência NACIONAL e ambulatório-hospitalar). Assim, certo de que seria bem atendido, me dirigi para lá com o Ir. Silvio. Aí começou o verdadeiro Calvário.
Depois de obrigatórios 30 minutos na fila, fui informado pela responsável do plantão que “não havia vagas”. Questionei um pouco e se comprometeram a fazer a “interconexão”.
Passada cerca de uma hora (fiquei em pé), fui informado que, de fato, não seria possível a transferência, pois não tinha havido contato com a Paraíba. Solicitei, então, que transferissem o Pe. Juciê para outro hospital particular (conforme a Lei 9.656/2008, art. 17), pois ele não poderia ficar no IJF, sendo “um bom e pontual pagador da Unimed”. Rispidamente, fui alertado a que “isso não existe”. Vendo que não conseguiria nada, tentei formalizar denúncia na Ouvidoria do hospital, mas me deparei com o nefando corporativismo.
Frustrado, impotente, decepcionado e revoltado, tentei voltar para o IJF. No corredor, fui abordado pela mesma chefe de plantão que me apresentou uma proposta indecente: deixar um cheque-caução de R$ 10.000,00 (proibido pelo Código Civil, pelo Código de Defesa do Consumidor, pela Lei 9.656/2008 e pela Resolução Normativa da Agência Nacional de Saúde, nº 044/2003) e alugar uma ambulância por R$ 750,00. Querendo vomitar com a falta de profissionalismo e com a conduta ilegal da Unimed, passei toda a negociação para o Pe. Gervásio que, via telefone, manifestou ao funcionário daquela casa toda a sua indignação.
Em síntese, pela primeira vez na vida, o Pe. Juciê precisou da Unimed (e em situação delicadíssima), mas não foi atendido, pois a operadora preferiu o vil metal à vida humana. Para ela, o pobre padre, que estava numa situação de urgência, mereceu ficar à mercê da própria sorte, mesmo a alguns quarteirões do Hospital da Unimed. Certamente é proibido sofrer acidentes fora da Paraíba. Deve-se programar o local geográfico de um sinistro, mesmo tendo um plano ambulatorial-hospitalar cuja abrangência é nacional.
Ao Bispo de Cajazeiras e ao seu clero, sugiro exigir da Unimed explicações formais, além de ponderar sobre as desvantagens de continuar sendo tratados assim, por uma instituição mercenária do lucro. Ao Pe. Juciê, sugiro propor ação judicial, exigindo ressarcimento de tudo o que foi pago à Unimed, que não cumpriu seu compromisso contratual, além indenização pelo dano moral sofrido.
Com a vida não se brinca, nem se negocia.
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