A mercadoria viver
Por Mariana Moreira
Qual o limite entre segurança e prazer de viver?
O viver como expressão de uso e usufruto do existir pode ser traduzido em muros altos?
O conforto de viver pode ter como sinônimo câmeras de vigilância a espreitar todos os movimentos?
Câmeras que, inibindo a espontaneidade de quem, receoso do flagrante, se impõe a rigidez de gestos e atitudes recomendados como “aceitáveis”.
O viver como o mínimo de sentido de viver pode ser desenhado em muros que isolam, individualizam, segregam?
Qual o limite entre manter-se seguro ante as violências que, produzidas historicamente, corroem e fragilizam a existência humana, e o viver cotidiano no contato com o outro que te cumprimenta ao cruzar a rua, no olhar da criança de rua que, sem nenhuma elaboração política e conceitual da violência, te estende a suja mão no apelo de uns trocados para o pastel que aliviará a fome de uma vida inteira.
O viver com plenitude pode ser encontrado em guaritas rigidamente construídas e onde seguranças anônimos e protegidos por coletes e armamentos, te guardarão de toda e qualquer manifestação de violência e insegurança?
Violência, dissecada de sua historicidade, e atribuída a indivíduos que, geralmente, trazem na cor da pele e no lugar de nascimento e moradia, os genes produtores dos atos e atitudes de maldade, agressividade, desrespeito, aviltamento.
E assim o viver, como a sua plenitude do ir e vir, do escancarar a janela apenas pelo deleite de inspirar luz solar e ar sem os limites e interditos de grades, do caminhar por ruas, becos, vielas sem os sobressaltos de cruzar com o outro que traz na cor da pele, na singeleza do vestir, na rusticidade do calçar, uma identidade “marginal”, vai se transformando em quimera, dissipada pelas tormentas de um modo de vida que, produtora da violência, a vende como mercadoria de alto preço.
E, transformando a violência em mercadoria transacionada em múltiplas quitandas e mercados, também o viver e, sobretudo, a segurança do viver, vai ganhando a formatação e a embalagem de mercadorias que, disponibilizadas no mercado, tem seus valores definidos pelo nível de medo e insegurança que o comércio da violência impõe e determina.
E, como tradução do viver bem, vendem-se lugares de viver, onde o que não existe é vida, mas somente vitrines que expõe tua segurança em condomínios fechados, em guaritas bem guarnecidas, em cercas elétricas, em circuitos de vigilância.
Tudo avaliado por preços de mercado, onde antes, tua segurança e teu viver também são marcados com os valores que o medo te alimenta.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário