A irmã de Aécio Neves ou a maldição da bruxa
Ela não é uma irmã qualquer. É muito mais do que a irmãzinha. Andrea representa um ponto de apoio para a estabilidade emocional de Aécio Neves, o ilustre senador mineiro, herdeiro político de Tancredo Neves, como o neto preferido. Não estou a inventar. Falo assim apesar do pouco que conheço da história dos dois irmãos. Da relação entre eles, divulgada na mídia e em conversa à boca pequena.
Andrea Neves é jornalista profissional e tem passagem pelo Centro de Pesquisa e Documentação em História, da Fundação Getúlio Vargas. Trabalhou muito tempo no Rio de Janeiro, alargando mais ainda o círculo de articulações políticas, através do privilegiado trânsito das redações midiáticas. Ela sempre se envolveu em atividades políticas, desde a época de estudante, sem distanciar-se naturalmente do influente avô Tancredo Neves, de quem herdou a discrição, dizem, e a tendência à conciliação. Sem, no entanto, perder a firmeza no trato com adversários, quando necessário. Lembram, por exemplo, que foi muito segura e eficiente ao exercer o papel de “primeira ministra” sem pasta do irmão, quando Aécio Neves governou Minas Gerais oito anos, de 2003 a 2011.
Nesse período Andrea cresceu.
Mesmo sem cargo relevante no organograma da administração mineira, ela detinha significativa parcela do poder. E o usava com pulso forte e denodo, em particular na articulação com os órgãos de comunicação. Seu desempenho foi fundamental para projetar a imagem de Aécio como gestor público moderno e competente. Imagem – verdadeira ou falsa – espalhada no Brasil inteiro. À irmã Andrea ele deve boa parcela desse trunfo eleitoral que o acompanha desde então.
Não é só na seara pública o arrimo de Andrea.
Aécio tem outros motivos para ser grato à irmã. Ainda que não sejam de todo verdadeiras as aleivosias levantadas acerca da sua conduta pessoal, (as redes sociais estão cheias de pó), Aécio exibe fragilidade emocional. Sua vida familiar é discreta, mas recheada de sinuosidades e atropelos. Isso, para um homem público sempre em evidência, pode funcionar como pedras no caminho, usando a conhecida metáfora popularizada por Carlos Drummond de Andrade. A irmã Andrea, apenas um ano mais velha que Aécio, lhe dá adjutório emocional, dizem, minimizando consequências funestas ao político em momentos de crise pessoal.
Crise como vivem os dois, agora.
Presos. Nas garras de investigações criminais que prendem em suas malhas o senador, a irmã e um primo. A irmã num presídio perto de Belo Horizonte. E Aécio? Afastado do mandato, ainda em casa, porém, cercado de restrições em sua liberdade de ir e vir. E sem grana para pagar advogado – a ponto de recorrer a um empresário corruptor, delator cheio de maquinações e espertezas -, além de impossibilitado de buscar na irmã o conforto psicológico capaz de evitar sua completa desestruturação emocional. E isso, me disse um amigo com raízes mineiras, pode levá-lo a gestos de desespero, incapaz de barrar a angústia. A profunda e dupla angústia de ver encarcerada a irmã e pressentir a continuidade de sua própria desdita, vislumbrando sombras em seu futuro, interrompido já agora, o sonho da presidência da República.
A irmã lhe faz uma falta enorme, sobretudo porque Aécio sente esvair-se o sonho que ele tentou construir, quem sabe, montado num cavalo de pau, salpicado de nuvens brancas, como se uma bruxa o tivesse amaldiçoado. Para sempre.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário