A garça na sangria do Açude Grande
Por Francisco Frassales Cartaxo
Da mureta do canal do sangradouro do Açude Grande, junto da praça Cristiano Cartaxo, vi a garça bicar peixinhos na correnteza de fim de inverno. Durante alguns minutos apreciei aquela brancura na batalha da comida. Corri ao celular ansioso para registrar a rotina, imagino, no longo período de chuvas este ano. Ao me aproximar a garça voou, exuberante, agigantada, com suas asas longas, até a mangueira além canal. Outras se achegaram, formando um pequeno bando, vestido de noiva. Paciente, esperei-lhe o retorno. E a fotografei de muitos ângulos.
Quando me dirigi ao balde do Açude, notei que uma garça cruzou o céu no mesmo rumo. (Seria a mesma?). Da passarela do sangradouro, observei que disputava com pequenas aves a caça viva. Do outro lado da barragem, na imensidão das águas, em meio à profusão de mato, salsa, capim e muitas ervas, estavam jaçanãs, socós, lavadeiras…
– Olha, Frassales, um ninho de galinhas d’água, ali, espia na pasta.
Bosco Amaro aponta o local exato onde se mexe quase uma dúzia de avezinhas, algumas com o bico aberto à espera do alimento salvador. Aprendem a arte da sobrevivência. Fotografa, fotografa, repete Bosco, meu velho companheiro da resistência democrática no antigo MDB cajazeirense. Tento em vão captar com nitidez a descoberta, porém, minha falta de habilidade no manuseio do celular fica à mostra, mais uma vez.
Continuamos pelo balde do Açude.
No meio da parede, um pé de cajá desponta, entre Melão de São Caetano, canapú, flores do mato, jetirana e muitas ervas! Essa cajazeira, com raízes fincadas na parede do Açude é um símbolo, a nos lembrar a maldade que abateu cajazeiras ao lado do Tênis Clube. Espero que não apareça, agora, quem a condene à morte, por algum motivo “técnico”, sob a alegação de representar um perigo para a segurança da barragem, construída na seca de 1915.
A jusante do Açude, à altura do muro do antigo Oratório, ao lado da atual Faculdade Católica da Paraíba, fica o terreno, no qual padre Gervásio Fernandes ensaiou uma roça de milho, feição, jerimum, batata doce. Se não dava resultado econômico, aplacava a nostalgia da zona rural, um apego de todos nós.
Retornamos à passarela do sangradouro.
Vejo que a garça solitária, após sobrevoar o lixo, espalhado à margem da intercortada correnteza, pousa nos seixos do sangradouro. Com inusitada elegância, a bela garça bica piabas para alimentar a exuberância de seus voos. Benza-te Deus!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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