A festa da vitória irritou o bispo
A festa da vitória deu uma confusão tremenda em Cajazeiras. Calma, gente, não foi este ano, faz muito tempo. Na euforia da comemoração da eleição de José Américo de Almeida para governador, em 1950, as putas se juntaram às moças da sociedade. O vigário, padre Américo Sérgio Maia, não gostou nada do que soube, assumiu as dores e lavrou veemente protesto público.
Conto como foi. José Américo, fundador da UDN em 1945, pouco tempo depois reorganizou na Paraíba o Partido Libertador (PL), encarregando o amigo Veloso Borges de arregimentar correligionários para seu novo partido Juntou gente na Paraíba inteira. De Cajazeiras, entre muitos, ingressaram na nova sigla Ivan Bichara Sobreira, os irmãos Otacílio e João Jurema, o prefeito Arsênio Araruna, Juca Bonifácio e outros admiradores cajazeirenses. Então Zé Américo se uniu ao PSD de Rui Carneiro, formando a Coligação Democrática Paraibana para enfrentar o que restou da UDN. E não era pouco: Argemiro de Figueiredo, João Agripino, os Ribeiro Coutinho, os Sátyro e outros, que se coligaram com o PR de Pereira Lira, o homem do cachimbo, amigo do presidente Gaspar Dutra.
Em Cajazeiras, a turma do PSD (Manuel Lacerda, Tota Assis, os irmãos Holanda, Acácio Braga, Eudes Cartaxo e muito mais gente) criou alma nova, e saiu a empunhar a bandeira da Coligação Democrática. Não deu outra. José Américo, pai dos pobres, salvador do Nordeste, orador ferino, venceu o pleito abraçado a Rui Carneiro. O povo de Argemiro quedou-se mais amarelo do que sua bandeira de campanha…
E a festa da vitória? Aqui passo a palavra ao Correio do Sertão (ano 2, nº 16, novembro/1950), mensário da diocese de Cajazeiras, que nessa época tinha como redator-chefe padre Américo Sérgio Maia, primo e aliado de João Agripino, que assim se expressou, sob o título “Repulsa”:
“Ponto negro constituiu o baile popular da grande Festa da Vitória, em Cajazeiras, dia 5 deste mês. Em nome da democracia, dele fizeram parte as infelizes mundanas da ponta da rua!… A coisa foi tão revoltante que, apesar da vertigem do triunfo, as senhoras de bem e as moças da sociedade imediatamente se colocaram à margem da dança. Isso, porém, não basta. Deixando a salvo as considerações político-partidárias, aqui está o Correio do Sertão, devidamente autorizado pelo Sr. Bispo diocesano, para gritar bem alto um protesto, uma maldição contra essa democracia que perdeu a noção da profilaxia social, que renegou a nobreza de nossa vocação cristã para chafurdar na lama da imoralidade. Se democracia é rebaixamento moral, de bom grado renunciaremos a ela. Se democracia é cabaretização das famílias e da sociedade, que desapareça do Brasil cristão. Será que os responsáveis por esse ultrajante acontecimento pensam que o governador José Américo se julgará honrado com o afeto aviltante dessas pobres desviadas, que são ao mesmo tempo as vítimas e as provocadoras da corrupção social? Será que a presença das mundanas derrama luz e fulgor sobre a grande vitória do novo governador?”
“Saibam os que assim procederam que este não é o modo de pensar da imensa maioria dos eleitores que sufragaram, com esperança mais nobre e promessas mais dignas, o nome do herói da seca de 32. Dele esperamos uma Paraíba progressista, cristã e moralizada.”
E mais não disse, porém, muito se falou à boca pequena, tanto que as orelhas de Otacílio Jurema arderam à beça…
PS – O bispo era dom Luiz Mousinho.
Cajazeirense residente no Recife. [email protected]
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