A elegância de viver
Por Mariana Moreira
Um amigo, jornalista e poeta, em rápida postagem em redes sociais, me instiga pensar quando comenta a ausência de elegância que vem se constituindo numa das marcas basilares de nossos tempos. E não nos referimos a elegância ditada por regras de consumo que determinam grifes famosas, estilos pasteurizados, comportamentos estéreis e monótonos, biombos que camuflam afetos, cordialidades.
A carência é de elegância humana expressa num gesto de bom dia entoado com a sinceridade de quem vê no outro uma parte de si, a reclamar respeito, cuidado, carinho. A elegância de um abraço traduzido no aperto entre braços que se entrelaçam partilhando calor humano e compartilhando alegrias, dores, saudades, prazeres. Não a deselegância, nada discreta, de gestos autômatos, repetidos na sequencia de uma regra de etiqueta que prescreve comportamentos padronizados, repetitivos, inertes, para não comprometer o que se impõe como proceder entre seres.
A carência é de elegância na cordialidade entre pessoas que, diferentes em gênero, gosto, convicções e crenças, são “pariceiros” de espécie, habitantes do mesmo planeta, respiradores do mesmo ar.
Mas, com que recorrência nos flagramos deselegantes ao anular o outro, apenas e tão somente, por ser o outro, e não uma extensão de mim. Deselegância quando minha arrogância turva qualquer possibilidade de aceitar e, sobretudo, com-viver com o outro que, carregando os mesmos traços genéticos, vai se instituindo único na composição cultural, política, social, afetiva de humano ser.
A carência de elegância, matéria prima basilar da prepotência, que turva e paralisa qualquer ação de carinho, respeito e empatia pelos que, diferentes em composição física e modos de pensar, passam a engrossar fronteiras e territórios. Fronteiras e territórios que cartografam mapas, classificando, separando, apartando homens e mulheres, negros e brancos, gordos e magros, do norte e de sul, bem vestidos e esfarrapados, urbanos e rurais, jovens e velhos, ricos e pobres. Mapas com fronteiras bem definidas e, com frequência, intransponíveis, vez que estão protegidas pelas densas barreiras da arrogância, da prepotência, do eu como expressão máxima do aceitável.
E, no turbilhão da deselegância que ganha o status de única forma aceitável de sociabilidade, finco minhas unhas de náufraga nas sentenças de Zygmunt Bauman para encontrar os derradeiros fiapos de elegância que teima em me manter humana. “As relações são cada vez mais vistas através do prisma de promessas e expectativas, e como um tipo de produto para os consumidores. Eles querem satisfação, se não ficam satisfeitos, devolvem o produto à loja ou vão trocá-lo por um novo e aprimorado. Afinal, você não se apega ao carro, ao computador ou ao iPod quando versões melhores aparecem?”.
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