A defesa do réu José Dirceu
Por Francisco Frassales Cartaxo
José Dirceu cumpre pena por crimes no mensalão e é réu em Ação Penal ligada à Lava-Jato. Ele é acusado de ter recebido R$ 11 milhões, desviados da Petrobras. A maioria desses recursos teria sido paga à JD Consultoria, via contratos de prestação de serviços a empresas beneficiárias do esquema de corrupção investigado pela força-tarefa do Paraná. Não lhe é fácil comprovar a lisura de tais serviços, além de outras modalidades indiretas de remuneração: viagens, reforma de imóveis.
Para compreender a estratégia de defesa de Zé Dirceu, é bom recordar traços de sua biografia. O líder estudantil virou guerrilheiro no embalo de Cuba, onde esteve, e se fez amigo de Fidel. Os contatos no exterior lhe permitiram montar sólida base de relacionamento com figuras políticas que, mais tarde, viraram autoridades governamentais, estratégicas para negócios em seus países. Dirceu acumulou assim um capital intangível, facilitador de suas articulações internacionais. Com a abertura política no Brasil, ele ajudou a estruturar o PT, tornando-se um notório expoente nacional.
Dirceu era o cara.
Com talento, esperteza e pragmatismo, Dirceu comandou o PT, com ascendência enorme sobre o próprio Lula, e desempenhou papel saliente na montagem da estratégia da vitoriosa candidatura de Lula. Coordenou articulações com empresários e partidos, formando a exitosa aliança eleitoral de 2002. Já no governo, a partir da Casa Civil, exerceu significativa parcela do poder. Dali sairia para ser o substituto de Lula na presidência da República. Mas nem tudo se encaixou.
O mensalão foi a pedra em seu caminho.
Cassado o mandato de deputado, aquele capital intangível lhe foi então de enorme utilidade. Dirceu tornou-se lobista. Choveram empresários a procura de negócios aqui e no exterior, particularmente, em nações latino-americanas, onde ele cultivara amizades com vários novos governantes. Alguns, quem sabe, velhos camaradas de cursos de guerrilha ou de formação política em Cuba. Tudo muito simples.
Complicado é convencer Sérgio Moro e procuradores de que suas fontes de renda são lícitas e derivam de verdadeiros serviços de consultoria. Como comprová-los se os resultados se materializam em pequenos informes? Alguns sequer publicáveis… Cadê os Relatórios das atividades do consultor? Não existem. Ora, a prestação de serviço tem caráter especial, como disse Zé Dirceu no depoimento prestado em Curitiba: “minha consultoria era personalíssima, de avaliação da conjuntura política, econômica, de abertura de mercado no exterior e de avaliação da situação do Brasil”. Tudo bem. Agora, ter sucesso com a Justiça, é outra história.
A situação de Zé Dirceu é complicada.
Punido no mensalão, e agora réu em outra Ação Penal, se condenado, ele terá sua pena agravada pela reincidência. Essa perspectiva parece que não o amedronta. Quem o viu na televisão, embora magro, tenso e abatido, identificou facilmente o Zé
Dirceu de sempre:
– Não é de minha índole, não é de minha história.
Respondeu quando lhe pediram nomes. Falou como chefe. Jamais recorreria à delação premiada, tão insinuada na mídia e ansiada pela oposição. Dirceu reconheceu erros e falhas em sua própria conduta de homem público, mas manteve a linha de sua trajetória de vida. Só não enxerga essa postura quem tem preguiça de raciocinar, quem costuma dividir a sociedade entre os bons e os maus, entre nós e eles, entre coxinhas e petralhas. De minha parte, já arquivei esse tipo de deformação há muito tempo.
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