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Francisco Cartaxo

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A covid-19 abateu seu Luiz

14/03/2021 às 10h32

Coluna de Francisco Cartaxo

Por Francisco Frassales Cartaxo

Seu Luiz soube do suicídio de Getúlio Vargas quando descia do navio, no porto do Recife, no dia 24 de agosto de 1954. Vinha de Coimbra, onde nascera em dezembro de 1926. Jamais poderia imaginar que seria levado pela tragédia mundial da covid-19. Chegou solteiro. Só depois veio Celeste, um amor adolescente também lá da terrinha. Artesão no campo da pintura de azulejos, Francisco Brennand logo o contratou. Brennand foi “a primeira pessoa a valorizar meu trabalho”, diria seu Luiz, décadas mais tarde, acrescentando, “ele vira uma produção em cima de minha mesa e falou”: Isto é obra de artista. Modesto, seu Luiz preferia avocar-se como artesão.

Luiz Domingues dos Santos, artesão ou artista, foi um autodidata. Deixou sua marca em numerosos prédios no Recife e em outras cidades. Fez parceria com o arquiteto Delfim Amorim, também português, numa época em que, ainda, se usava azulejo largamente. Trabalhou com os artistas plásticos Corbiniano Lins e Abelardo da Hora. Ainda hoje, os azulejos decorativos resistem no Edifício Acaiaca, em Boa Viagem, imponente referência arquitetônica. Sua obra artística integra a casa que o saudoso médico sousense Altino Ventura construiu no bairro da Casa Forte.
Seu Luiz atuou a maior parte de sua longa vida como autônomo, gerindo o que ele chamava de oficina, que funcionou em vários endereços no Recife. Nessa condição, trabalhou com inúmeros arquitetos, daqui e de outros estados, como Paraíba, Alagoas e Pará. Em Belém, no Colégio Santa Rosa, ele pintou seu maior painel, medindo 40 metros quadrados. De sua lavra ou de Paulo, único dos três filhos que seguiu o pai, há no cemitério de Cajazeiras lápides decoradas em seu atelier.

Seu Luiz morreu no dia 7 de março, na ala covid-19 de um hospital no Recife. Com mais de 90 anos, o casal idoso recorria aos serviços de cuidadoras profissionais. Assim o vírus se infiltrou dentro de casa, contagiando quase toda sua família: dona Celeste, filhos, noras, netos e netas. Onze pessoas foram contaminadas. Mais da metade, atendidas em hospitais. Algumas na UTI, incluindo seu filho, Carlos Domingues, psicólogo, professor, doutor em Línguas, casado com uma filha de Tantino Cartaxo, Charmenia, que também foi parar no hospital.
Coincidência. Quase na mesma hora em que seu Luiz fechou os olhos pela última vez, Carlos recebia alta e, noutro hospital, seu irmão Paulo era internado. A covid-19 é uma desgraça.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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