A construção de experiências em sala de aula
Por Maria do Carmo – A sala de aula é um universo complexo, onde professores e alunos trazem consigo as influências culturais herdadas do grupo familiar e conceitos da própria sociedade. É um espaço onde ocorre o ato de educar, tanto no sentido intelectual como enriquecedor para a aprendizagem mútua, no tocante a transformação na maneira pensar, ver, criticar, analisar e agir na vida com um novo olhar: “o de aceitação às diversidades”.
As aulas, constituem o desenvolvimento das competências na preparação para a vivência em sociedade de forma harmoniosa, neste sentido a senda do saber estar para as duas realidades. De um lado estão os educadores qualificados e preparados para mediar o conhecimento e ao mesmo tempo disseminadores do respeito às diferenças individuais, inclusive a crença religiosa de cada um. Os professores com mais maturidade tornam-se aptos às mudanças de seus próprios conceitos, afinal, eles são os mentores das inovações no campo educacional. No outro ponto, estão os alunos buscando a sua autoafirmação para a construção da própria identidade, que por sua vez teve início no grupo familiar e em parte, carentes de orientações na emissão de opiniões quando se refere a algo passivo de críticas da vida da outra pessoa em decorrência de preferências religiosas.
A missão dos professores é valiosa, porém exige dos mesmos a disposição para a abertura de novas mentalidades e ao mesmo tempo que crescem, ajudam aos educandos progredirem também. Os educadores são agentes transformadores de opiniões, através do bom encaminhamento na visão humanitária podem construírem ações de respeitabilidade, uma vez que seu trabalho tem como matéria-prima seres pensantes que devem ser direcionados, a fim de se tornarem cidadãos capazes de conviver na sociedade.
Vivemos num país laico, mas ainda acontece constrangimentos da não aceitação por parte de alunos pertencentes a uma linha religiosa diferente. É uma situação desafiadora para os professores que com muita habilidade poderão lidar com o problema, transformando a dificuldade vivenciada em uma rica aula, na quebra de paradigmas com relação ao respeito à diversidade religiosa. Constituem preconceitos religiosos, quando pessoas de um credo X não aceitam e ao mesmo tempo repudiam de forma hostil as ideologias, preceitos e regras dos seguidores da religião Y.
Uma manifestação desconfortável entre alunos de religiões diferentes aconteceu numa aula de gramática contextualizada através de um texto de cujo título “Sangue para testemunhas de Jeová”. Era uma matéria de uma revista da atualidade na qual informava técnicas da medicina para reposição do número de glóbulos vermelhos no sangue através de medicamentos, sem precisar de transfusão sanguínea reforçando a tese das Testemunhas de Jeová. As entrelinhas do texto motivaram a discussão e alguns alunos expressaram críticas, no tom agressivo às atitudes do Jeová em não se permitir doar ou receber sangue. Alegaram; ‘que era falta de humanidade, que não tinha sentido deixar alguém morrer para respeitar o preceito de uma religião’. Mesmo considerando a idade cronológica, uma vez que era uma classe de adolescentes, o objetivo era acertar o alvo, a colega de classe, com contestações no teor repressor e debochado.
Serenamente a aluna Testemunha de Jeová argumentou o porquê de sua religião não aceitar a transfusão de sangue, fortalecendo a tese da pureza do sangue, segundo ela, ‘não poderia ser doado por hipótese nenhuma’, e através de trechos bíblicos confirmava os argumentos segundo a interpretação com base na sua religião, sugerindo o tratamento através de medicamentos. Por conseguinte, a aula estava enriquecedora, uma vez que eles estavam desenvolvendo posicionamentos muito importante para ambas as partes, a atmosfera da aula oportunizava as condições para uma vasta dimensão da mesma no tocante ao direcionamento da aceitação das individualidades e respeito cada religião.
Nestes momentos o professor deve ser vigilante, criativo e imparcial na condição de mediador, cujos argumentos não deve transparecer privilégios em relação às posições de A ou de B. Em contrapartida, seria desastroso se o assunto fosse passado adiante sem reflexão pertinente; quantas oportunidades de esclarecimentos seriam perdidas se o professor não desse atenção a ansiedade dos mesmos, uma vez que não era o foco da aula, porém o estímulo participativo dos alunos não poderia ser tolhido. Escutar cada ponto de vista, conduzir a discussão de forma enriquecedora, é considerar a capacidade de crítica do aluno realizadas com ponderações e ao mesmo tempo o desenvolvimento da sensatez e o conhecimento sobre as diversidades em volta do mundo de cada um.
Ensinar consiste em oferecer condições para uma problematização e consequentemente o desenvolvimento de competências frente a mesma resultando uma rica aprendizagem. Exteriorizar o pensamento em defesa do ponto de vista individual, consiste na afirmação da personalidade, contudo, aceitar a forma de ser do outro, sua cultura, sua religião é fundamental para relacionamento humano. A sala de aula é o celeiro para a formação através dos conhecimentos intelectuais conciliados com uma mentalidade aberta, de grandezas na forma de pensar para as ações harmoniosas tornando os alunos seres conscientizados e humanizados.
A interculturalidade aponta que a vivência em comunhão, em paz e em respeito mútuo é uma postura que deve estar presente em todas as ações. Consiste num instrumento de aproximação do outro inclusive no ensinar e no aprender desde a nossa língua até os aspectos culturais e religiosos. Uma das metas da educação escolar é estimular a união na construção da fraternidade na sala de aula como uma preparação nas futuras relações sociais e ações humanas dos educandos.
Professora Maria do Carmo de Santana
Cajazeiras, 16 de Outubro de 2023
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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