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Francisco Cartaxo

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A caminho da Papuda

26/10/2015 às 13h45

Vamos refrescar a memória. Em 2005, o deputado Severino Cavalcanti (PP/PE) derrotou Luiz Eduardo Greenhalgh (PT/SP), candidato de Lula à presidência da Câmara Federal. Na ocasião, ele encarnou a rebeldia do baixo clero, apelido pejorativo dado aos parlamentares que ficam longe dos holofotes e das benesses do poder. Empolgado com a vitória, Severino Cavalcanti exigiu da então ministra Dilma Rousseff uma diretoria da Petrobras paraum apadrinhado. E não era uma diretoria qualquer. Com forte sotaque pernambucano, engrossou a voz:

“O que o presidente Lula me ofereceu foi aquela que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero”. 

O simplório Severino Cavalcanti -ligado a antigos senhores de engenho, grupo social decadente -,ficou famosopor volta de 1980, quando era deputado estadual e se fez intérprete de movimento visando expulsar do Brasil o padre italiano,Victor Miracapillo,párocode Ribeirão, apoiador dos movimentos comunitáriosna Zona da Mata. Antes disso, Biufora prefeito do inexpressivo município de João Alfredo. 

À margem dos conchavos de cúpula da política brasileira, como presidente da Câmaraele ouvira o galo cantar:a Petrobras estavasendo preparada para tornar-seimportante fonte dedistribuição de propinas entre partidos da base governista. Para ele a “fura poço” era a diretoria adequada a seu novo status de terceiraautoridade na escala do poder republicano. Caiu do cavalo.Seu pupilo não emplacou. O escolhido foi Paulo Roberto Costa,nomeado diretor da Petrobras como representante do PP no,hoje se sabe, escrachado esquema de corrupção. Assim nasceu o petrolão. Dez anos depois, Paulo Robertoé preso e se torna o primeiro delatorpremiado da Lava-Jato,aproveitando a faculdade aberta pela lei 12.850/13. Aliás, lei assinada pela presidente Dilma Rousseff.
Severino Cavalcanti revelou-se primário.

Impôs e recebeumesada de 10 mil reais do donodo restaurante da Câmara. O coitado quase vai à falência!Ameaçado por umcrime de porta de açougue, Severino renunciou ao mandato de deputado,evitando a cassação, paratentar reeleger-se em 2006. Mas foi reprovado nas urnas.Decepcionado,o velho Biuencontrou abrigo em sua terra, João Alfredo, elegendo-se prefeito em 2008. Hoje com 85 anos, ainda pensa retornara Brasília… 

E o deputado EduardoCunha?

Esse é esperto.Quando se fez presidente da Câmara Federal, vencendo,com o apoio do baixo clero,candidatosdo governo e da oposição, Cunha não apenas ouvira o galo cantar, como o ingênuo Biu, mas atéjá recolhera ovos em contas secretas de bancos suíços!Ovos da galinha de ouro em que o governo do PT transformou a Petrobras, históricosímbolo da independência econômica do Brasil,criada em 1953 por Getúlio Vargas em afrontaaos trustes internacionais. A revelação do segredo de Eduardo Cunhanão é invenção da mídia ou de inimigos. Tem a chancela oficial do Ministério Público da Suíça. Issolhe escancaraa hipocrisiaefere de morte sua arrogante presença na cena política brasileira. 

Terceiro na fila sucessória da presidência da República, agora ele come o pão que o diabo amassou. Encurralado pelo Ministério Público Federal, sente crescer a cada dia o clamor contra sua permanência no cargo conquistado pelo voto dos iguais. Mesmo assim, repete diariamente: não renuncio.Renúncia é ato de vontade pessoal, bem sei, mas é capaz de Cunha ser forçado a adotar o caminho de Severino Cavalcanti, com uma diferença brutal: Biu refugiou-se em sua terra eEduardo Cunhapode ir repousar no Presídio da Papuda. 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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