Prefácio do livro Guerra ao fanatismo
Por Francisco Frassales Cartaxo
O livro, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero, encontra-se na gráfica para a impressão final, após revisões feitas esta semana. Chegou a 175 páginas, com cinco capítulos, além do prefácio, da apresentação, introdução e de considerações finais. Espero tê-lo pronto e acabado no correr do mês de abril, quando pretendo definir, com ajuda de amigos, locais e datas do lançamento em Cajazeiras e João Pessoa.
O prefácio foi preparado pelo doutor, Carlos André Cavalcanti, professor da Universidade Federal da Paraíba, onde ensina História das Religiões e Diversidade Religiosa, e desenvolve intensa atividade como orientador de alunos na feitura de dissertações e teses. Do prefácio, de cinco páginas, selecionei os trechos a seguir como um aperitivo intelectual a possíveis (e por mim desejados) leitores e leitoras do ensaio acerca da diocese de Cajazeiras.
Se há um tema fascinante na História das Religiões no Brasil é o cerco ao Padre Cícero pela reação conservadora do alto clero católico, cuja mentalidade neocolonialista se traduziu no desprezo ao catolicismo popular alcunhado de fanatismo. O livro que você, nosso prezado leitor ou leitora, tem em mãos agora é um presente para a historiografia livre escrita sobre o tema. Prefaciá-lo é uma alegria e uma honra para mim como acadêmico e como cidadão.
Diga-se, aliás, que esta pesquisa vem no exato momento em que o Papa Francisco reconcilia a memória de Cícero com a Igreja, abrindo o caminho para a beatificação do mesmo. Não poderia vir em momento melhor, pois é hora de conhecer mais e de refletir com qualidade sobre a figura do padre.
Cartaxo pesquisa aqui um dos episódios mais densos deste divórcio que o Papa Francisco tenta anular com o perdão a Cícero post mortem. Este cenário torna este livro muito precioso, pois não sabemos nem se nem até quando esta singularidade brasileira sobreviverá à modernização dos sertões, aos hábitos trazidos pela mídia e ao forte discurso neopentecostal/carismático, que se opõe, em geral, ao culto dos santos sertanejos que o povo escolheu de coração.
Para chegar aqui, este livro teve uma densa trajetória. Pesquisador atento e eficiente, o autor lidou com a documentação digitalizada da imprensa católica da época com a mesma profundidade com que lidou com arquivos convencionais. Deduziu daí e do seu vasto conhecimento historiográfico toda uma conjuntura histórica e promoveu a crítica documental de forma serena e independente. É ousado em várias de suas assertivas e conclusões, o que me leva a afirmar que a obra nasce com vocação para clássico da historiografia.
Sobre historiografia, aliás, duas palavras rápidas por falta de espaço aqui para maiores considerações. Primeiro, desconsiderar a noção de historiografia regional imposta pelo Sudeste quando da consolidação da História acadêmica no Brasil. Este é um livro de História do Brasil, da mesma forma que livros de história do Rio ou de São Paulo o são…. Segundo, afirmar nosso respeito pela História feita por não historiadores de profissão, mas de fato. Destes, são exemplos contundentes Raymundo Faoro e Evaldo Cabral de Mello. Cartaxo está nesta historiografia que gosto de chamar de livre, como um elogio carregado de uma certa dose de inveja aqui confessada. É historiografia livre por ser produzida sem os ditames produtivistas que a academia impõe. É livre por não estar presa a considerações de carreira!
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